Confesso que sempre considerei os editoriais como espaços que não devem servir apenas para apresentar a programação de um Teatro. Tentei sempre ao longo destes dez anos fazer desta primeira página da nossa brochura um espaço de síntese lúdica e informal sobre as paisagens ou as intempéries, que enfrentamos para tornar possível e pertinente o acto de fazer viver um equipamento cultural.
Neste momento, atravessamos tempos muito estranhos, tão estranhos que, para poder reflectir sobre eles, esta brochura, não chegaria. Há imenso ruído, há muitos mal entendidos no ar... A Primavera associada ao desgoverno do Mundo causa um desnorteio de zumbidos que relembram a frase do Fernando Pessoa: Um insecto cego e inane, zumbindo contra uma janela fechada”... Abra a janela, folheie a nossa brochura e deixe a brisa transportá-la(o) até ao Teatro. É certamente um dos espaços da cidade que melhor nos reconcilia.
Não destaco nada da programação, destaco tudo porque, uma vez mais, os artistas têm andado particularmente inspirados e produtivos. Em parceria com outras instituições exemplares conseguimos reunir uma programação que deve ser vivida na totalidade. Nesta Primavera quase que damos a volta ao Mundo, ou melhor, somos visitados por criadores de quase todo o Mundo. O health club transformou-se numa máquina de viajar nos tempos e nos lugares. Realmente, a capacidade de metamorfose de um Teatro até espanta quem nele vive.
Paulo Ribeiro