Vinte e sete meses depois de ter assumido a direção artística do Teatro Viriato, estou ainda mais convicto que posso comparar este Teatro a um porta-aviões. Tendo em conta a atualidade, talvez possa parecer estranho recorrer a termos utilizados em conflitos bélicos. Mas permitam-me fazer esta associação, pois a potência que reconhecemos a esta plataforma militar foi algo que encontrei no quotidiano do Teatro Viriato.
Todos os dias encetamos batalhas para que haja um acesso democrático às artes performativas, para que os artistas sejam valorizados e tenham boas condições de trabalho, para que a educação artística seja uma realidade, para que a liberdade de pensamento possa pautar o dia-a-dia de todos. Em suma, para que a Cultura esteja presente todos os dias nas nossas vidas. Tal como os porta-aviões têm como papel principal servir outros, também no “porta--aviões-Viriato” há essa missão há já 25 anos. Uma missão de serviço público. Como refere a nossa frase celebrativa: Teatro Viriato, há 25 anos a ser Cultura.
Ao longo destes meses a “comandar” este portentoso “porta-aviões”, as aprendizagens e crescimento pessoal e profissional foram imensas. Talvez a mais importante tenha sido aprender novamente a parar e a ouvir o meu corpo. Na base da minha formação académica, encontra-se uma especialização em consciencialização corporal. Percebi, nos últimos meses, que andava a ignorar sinais inequívocos de que era preciso baixar o ritmo. De que era preciso voltar a olhar para mim, para os meus. Impus a mim próprio um ritmo demasiado acelerado nos últimos meses, me dividindo por diferentes “porta-aviões”. Para o meu bem pessoal e para bem de todos os que respeito profundamente, chegou a hora de reduzir o ritmo frenético. Fisicamente estarei mais distante, mas continuarei presente, por mais alguns meses, através da programação definida até ao final do ano.
Para as nossas comemorações de 25 anos de programação ininterrupta, teremos o regresso de alguns dos nossos companheiros de viagem que comemoram, também em 2024, o décimo aniversário. A Voz do Rock, projeto nascido dentro desta casa, que continua a encantar muitas pessoas até hoje, voltará aos nossos palcos com convidadas que são pesos pesados do rock português. Há uma década, o espetáculo “A Viagem” estreava no Teatro Viriato e, agora, depois de inúmeras reedições por todo o país e também no estrangeiro, regressa ao mesmo palco, para renovar a exploração das tradições e da modernidade através da dança. Por fim, também celebrarão os seus dez anos connosco, a companhia Formiga Atómica, que durante duas semanas ocupará os espaços do Teatro Viriato com espetáculos que abordam temas de enorme relevância nos dias de hoje. Uma programação que ainda prevê, os parceiros de longa data, como o Cine Clube de Viseu e as propostas pensadas conjuntamente para o “vistacurta”, ou o Teatro Nacional São João, com o qual abrimos a temporada. Há muito mais para acompanhar.
Nesta temporada continuamos a encontrar propostas que nos levam a vivenciar diferentes sensações, sem nunca esquecer como a Cultura é o farol que desenvolve, fortalece e diversifica o nosso pensamento crítico.
Neste momento de despedida, agradeço também a todos vocês, que têm acompanhado a nossa navegação e nos têm ajudado a chegar sempre a bom porto. Principalmente, neste ano de celebração.
Até breve.
Henrique Amoedo (julho de 2024)
